Histórias

"(...) O pior que há para a sensibilidade é pensarmos nela, e não com ela. Enquanto me desconheci ridículo, pude ter sonhos em grande escala. Hoje que sei quem sou, só me restam os sonhos que delibero ter. (...)" - Fernando Pessoa

28.6.05

Veredicto

Acontece-me algumas vezes ter o espírito acometido com pensamentos que, depois de passada a neura, me parecem perfeitamente disparatados. Mas acontecem; e a mim, acontece-me muito quando o cérebro, já farto da quietação e não tendo com que se entreter, entra num bulício que me cansa.
Apesar de se saber que tempo ajuda a clarificar ideias e sentimentos, às vezes parece-se com um detergente de roupa barato que l(e)ava a sujidade maior mas deixa a roupa com um aspecto encardido. Às vezes grito baixinho e para mim que quero uma luz, um sinal que me traga as certezas que não tenho.
Durante meses debati-me com a culpa do fim versus os argumentos que utilizava para me justificar as atitudes. Boas e más. Minhas e de outrém. Achava que, de alguma forma, eu teria tido uma percentagem maior de mau efeito; mau feitio (que alguns me apontam), intransigência, picuinhice... Depois veio a fase em que percebi que não teria sido tão má companheira, amiga ou amante que justificasse o tipo de desrespeito com que fui tratada. E ainda penso nisso; às vezes volta a interrogação de culpada ou inocente.
Será que há culpados e inocentes quando uma relação chega ao fim?! Ou será que se chega ao fim, a haver culpa, será de ambas as partes? Ou, ainda assim, há sempre um mais culpado do que outro?
Nem sempre consigo chegar a um veredicto final; só quando o despeito fala mais alto é que puxo a brasa à minha sardinha. E cada centímetro do meu córtex cerebral expele sentimentos vis, omo se se tratasse de uma pena, de um castigo.
Acho que isto, apesar de tudo, ainda me anda a fazer mal...
M.