Histórias

"(...) O pior que há para a sensibilidade é pensarmos nela, e não com ela. Enquanto me desconheci ridículo, pude ter sonhos em grande escala. Hoje que sei quem sou, só me restam os sonhos que delibero ter. (...)" - Fernando Pessoa

19.8.05

Encontro Casual

- Olá M.. Há quanto tempo não te via!
Respondo educadamente ao cumprimento enquanto a pessoa continua.
- Os paizinhos estão bons? O mano? E a avó?
Acedo que sim e tento pôr um ar de quem tem o jantar ao lume, já a prever o rumo deste quase monólogo chapa 5, na esperança de me escapulir dali com alguma rapidez.
- Então e já estás a trabalhar? Fazes o quê?
Explico o que faço o melhor que sei apesar de, como tantas outras, ficar a achar que trabalho numa agência de viagens. Quero sair dali depressa. Aquela conversa vai parar onde já sei que vai parar...
- Estás uma mulher. Que idade já tens?
Faço o meu melhor sorriso amarelo ou pelo menos esforço-me. 28. Já estou a 30 cm. da pessoa, na direcção de casa. Consigo perceber na sua expressão: não tarda sai a "pergunta de prémio"...
- Então e o namorado está bonzinho? Já casaste?
E pronto. Temos a burra nas couves! Com um sorriso mais amarelo do que o anterior, respondo que não a ambas as perguntas enquanto a sua expressão se altera e esboça um pensamento do tipo "Meu Deus! Com esta idade, sem marido e a idade para os filhos passar-lhe...".
- Então pronto, adeuzinho. Gosto em ver-te. Cumprimentos aos paizinhos.
Agradeço, viro costas e sigo para casa com um nó no estômago. F#&i%@ da vida; que este tipo de diálogo tem este efeito sobre mim. Não seja pelo facto de já por si ser complicado estar sozinha, pelo menos pelo facto de ter que levar com o olhar, ora piedoso, ora crítico desta gente de vida "nasce > cresce > casa > tem filhos". Pfttttt.
A minha queridíssima amiga Nocas vai ter uma Maria. Está de boa saúde e já vai a meio da etapa. Que bom.
A titi M. só tem sobrinhas, mas está muito feliz na mesma!!! :o)
M.