Histórias

"(...) O pior que há para a sensibilidade é pensarmos nela, e não com ela. Enquanto me desconheci ridículo, pude ter sonhos em grande escala. Hoje que sei quem sou, só me restam os sonhos que delibero ter. (...)" - Fernando Pessoa

17.10.05

Sempre o Amor

“Ninguém ama outra pessoa
só porque ela é educada,
se veste bem
ou porque nos faz rir.
Isso são referências.
Ama-se pelo cheiro,
Pelo mistério,
Pela paz que o outro lhe dá,
Ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom de voz,
Pela maneira que os olhos piscam,
Pelo brilho do olhar,
Pela maneira que as mãos tocam,
Pela fragilidade que revela quando menos se espera.
Ama-se justamente
Pelo o que o amor tem de indefinível.”
Anónimo
O final da noite daquele dia de emoções estava a chegar. Esperei o momento de os encontrar aos dois e dei-lhes o meu presente, num envelope perfumado e com uma inscrição de Alexandre Dumas. Foi escolhido com cuidado, como é sempre meu hábito. Não gosto muito de estereótipos e quem habita em mim merece a preocupação do que é escolhido à medida.
Por fora, escrevi este poema que alguém um dia me enviou num momento em que a certeza de um final já anunciado validava que estas coisas do amor são de facto indefiníveis. Porque não podemos escolher de quem gostamos. Porque o amor "... é isto tudo e, mais do que isto, não é nada disto...".
Ele agradeceu. Ela, leu até ao fim. E chorou.
Deu-me um abraço cheio daquela sinceridade cúmplice de quem nos conhece virtudes e defeitos e mesmo assim ainda nos respeita como somos. Sussurrou-me ao ouvido: "Tu também vais ser feliz amiga. Acredita." e ficámos um tempo só assim, em silêncio.
Naquele momento, acreditei; que se deseja, pelo mistério, pelo frenesim, pelo toque, pela fragilidade... Que vou ser feliz.
M.