E Depois?
Hoje acordei a preto e branco. Melhor: sépia...
Nestes tempos em que a imagem das pessoas é tão sobrevalorizada imagino um de muitos cenários possíveis: os homens, alguns homens ou todos é indiferente - e falo no feminino porque, afinal é a minha cabeça que aqui está a ditar - procuram uma boa imagem feminina aliada a uma série de outros factores (inteligência, simpatia, interesses, enfim...). Ok. Alguns chegam lá, ao conjunto que imaginam como quase perfeito. Estabelece-se uma relação; há risos, há cumplicidades, há interesses, há líbido; há pele e boca e olhos e tudo. Vive-se um dia de cada vez durante dias; que formam semanas e meses e anos. Muitos. Um dia, este conjunto quase perfeito a que se habituaram a chamar de mulher e com quem se passeiam vaidosos pelos amigos e pelo ego, tem um problema - suponhamos que de tiróde. O corpo que serve agora de ringue a uma luta de hormonas furiosas, deixa de ser airoso como antes. Mas a essência não muda. E aí, como é?
A líbido vai-se? Fica o carácter ou, se preferirem, a compaixão disfarçada de apoio? Começa um frete?
"Era a primeira vez que nus os nossos corpos
Apesar da penumbra à vontade se olhavam
Surpresos de saber que tinham tantos olhos
Que podiam ser luz de tantos candelabros
Era a primeira vez cerrados os estores
Só o rumor do mar permanecera em casa
E sabias a sal, e cheiravas a limos
Que tivesses ouvido o canto das cigarras
Havia mais que céu no céu do teu sorriso
Madrugada de tudo em tudo que sonhavas
Em teus braços tocar era tocar os ramos
Que estremecem ao sol desde que o mundo é mundo
É preciso afinal chegar aos cinquenta anos
Para se ver que aos vinte é que se teve tudo."
Praia do Paraíso - David Mourão-Ferreira
M. Ps - Feliz aniversário CPC. ;o)
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