Queda Livre
Um destes dias, a par consciente e à toa, entrei no elevador da minha vida e carreguei num botão meio ao calhas. Senti o início da subida com aquele friozinho na barriga.
Fiz talvez umas três paragens antes de chegar ao centésimo piso. Saí e deixei-me ficar ali um bocado, no hall da alma. Cheguei-me às janelas dos olhos e espreitei a medo; só queria encontrar uma yellow brick road que me levasse somewhere over the rainbow. Em vez disso, vi um chão de algodão alvo, movediço mas convidativo.
Em menos de nada, não sei bem vinda de onde, apareceu a razão. Trocámos dois dedos de conversa. É sabichona ela, mas às vezes é tããão aborrecida. Não tardou, apareceu o emocional (andam sempre nisto os dois, um atrás do outro; acho que ali há faísca...) e arreliou-me. Incentivou-me, espicaçou-me e outras tantas coisas acabadas em ou-me. Motivou-me.
Primeiro uma perna, depois a outra... Pus-me do lado de fora, dei um pulo e avancei por cima do macio. A minha pele estava quente e a brisa que começou a soprar aliviou-me. Por momentos consegui avistar a lua mas quando me estiquei para a tentar agarrar, o chão começou a desfiar-se por todos os lados. Recuei a tempo de me agarrar ao parapeito da janela.
Agora estou aqui a tentar segurar-me com as pontinhas dos dedos.
Devia deixar-me cair em queda livre; o vento na cara aclara as ideias. E sei que lá em baixo há uma rede feita de pessoas onde posso cair de braços abertos. Mas não me consigo largar...
M.
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