Histórias

"(...) O pior que há para a sensibilidade é pensarmos nela, e não com ela. Enquanto me desconheci ridículo, pude ter sonhos em grande escala. Hoje que sei quem sou, só me restam os sonhos que delibero ter. (...)" - Fernando Pessoa

15.4.09

Cataclismo

Os primeiros dois dias das minhas férias o que fiz, foi isso mesmo, estar de férias. O tempo foi meu amiguinho e deu-me a desculpa certa para não pôr na rua nem o nariz.
Quando finalmente no 3º dia, decido (ainda que com alguma relutância) sair de casa para fazer compras, quando chego com que é que me deparo??
A casa inundada desde a casa-de-banho até à cozinha, passando por um dos quartos.
Tentei absorver a água do chão de madeira o mais possível, depois de ter fechado as torneiras de segurança (como se a água viesse das torneiras...) e assim que consegui, construi uma barricada com toalhas de praia, qual barragem do Alqueva!
Esvaziei a água da sanita (roçava o tampo) e fui pelos andares todos em bonitos andrajos, próprios para cataclismos, adornados com luvas de borracha cor-de-rosa, pedir aos vizinhos que não usassem os seus autoclismos.
Quando regressei a casa, estava tudo inundado novamente. O meu jeito para a engenharia revelou-se nulo, já que as barricadas de nada serviram e a água saía desenfreada pelo pé da sanita...
Um "entupimento na prumada do prédio", disseram os senhores-desentupidores-de-canos-em-apuros.
E onde antes havia dois dedos de altura de água com pedaços de papel higiénico e terra (hopefully) a boiar, há agora apenas o cheiro a lavado e a lexívia.
Há também dores de pernas e braços e uma ou outra bolha nas mãos de tanto torcer a esfregona.
E há uma cama à minha espera e um corpo desertinho por adormecer enroscado noutro.
M.