Histórias

"(...) O pior que há para a sensibilidade é pensarmos nela, e não com ela. Enquanto me desconheci ridículo, pude ter sonhos em grande escala. Hoje que sei quem sou, só me restam os sonhos que delibero ter. (...)" - Fernando Pessoa

16.6.06

Ilusões

Pensei em tudo o que disse e em mais um par de coisas. Sim, claro. Como não pensar? "Quem não se sente não é filho de boa gente", certo?
Zango-me comigo por tentar seguir com uma calma que não consigo ter; por querer sem saber se de facto quero. Espero as reacções que tardam em chegar embora me convença de que não devo. Sei que não. Mas as ilusões - há quem as trate por sonhos - são como uma roda dentada; uma empurra a outra, que empurra a outra, que empurra a outra...
"Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.
Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!
Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...
Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso."
David Mourão-Ferreira
M.